segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A volta da dignidade cultural

por Nicolai Dragos do  Selo “Festa”*

Se foram quatro décadas, quando um autêntico brasileiro, Irineu Garcia batizado pelos deuses de todos os continentes, decidiu deixar para o seu país um registro cultural de valor perene. Muito provável foi um gôsto, um desejo, quem sabe uma ilusão. Sem finalidade confessa, transformou-se no maior gesto de pratiotismo. O filtro aguçado de Irineu ressoou para autênticos valores passados e presentes da música e poesia. Descobrir, conhecer, absorver e enriquecer era a maneira de moldar a consciência cultural brasileira.

Assim nasceu o selo “Festa”, que Irineu gravou para que todos ouvissem o que poucos ouviam e pior, quase ninguém gostava de gravar.

Passaram-se 16 anos da morte prematura do seu idealizador, que em vida conseguiu realizar parcialmente seu sonho. O grande projeto parecia ir na volta comum do esquecimento da história.
Deuses deram a grande visão para Irineu Garcia mas também uma sobrinha não menos visionária. Foi Gracita Garcia Bueno – artista plástica, escudeira fiel do seu tio, desde adolescência, que guerreou para resgatar este patrimônio.

Um acervo impar foi salvo para cultura brasileira! Não é pelo tamanho (mais de 100 títulos) mas pela qualidade de seu conteúdo. O lado excepcional dele é o registro da rica poesia brasileira (maioria recitada pelos próprios poetas – inédito no Brasil) assim como, para época o melhor da música erudita brasileira (de tanto difícil acesso). Toda esta riqueza cultural vai tentar saciar a sede de tantos brasileiros ( e porque não dizer estrangeiros) de conhecer o lado menos popularesco, de um povo criativo, onde a emoção e sentimento é um verdadeiro ancoradouro, mas livre para navegar.

Os nossos poetas, escondidos nas prateleiras das bibliotecas começarão ter voz e força. Vamos ouvir Cecílica Meirelles, Guilherme Almeida, Vinícius de Moraes, Cassiano Ricardo, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade e muitos outros.

Obras poéticas de grandes latino-americanos, de portugueses e espanhóis: Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Frederico Garcia Lorca, Gabriela Mistral e tantos outros.

A música erudita brasileira tem: Claudio Santoro, Francisco Mignone, Radamés Gnatalli, A. Nepomuceno, Heitor Villa Lobos, Camargo Guarnieri e muitos outros, assim como interpretações magnificas de Arnaldo Estrela.

É bom lembrar da valiosa música popular brasileira: Tom Jobim, Vinícius de Moraes, lenita Bruno, João Gilberto, Elizete Cardoso e outros.

É difícil num curto resumo fazer citações sobre muitos que as merecem. Assim, podemos citar Paulo Autran interpretando O Pequeno Príncipe com o belíssimo fundo musical de Tom Jobim.

Esperamos que em pouco tempo o acervo inteiro seja lançado preenchendo um grande vazio cultural. A distribuidora Eldorado, justiça seja feita, abraçou este projeto com todo entusiasmo e empenho. Nossos sinceros agradecimentos para esta Gravadora e Distribuidora que por tradição honram a poesia e a boa música.

Sem nenhum constrangimento, temos de lembrara calorosa acolhida e sincero entusiasmo pessoal do seu Diretor João Lara Mesquita. Nossos agradecimentos.

*texto de divulgação produzido especialmente para o relançamento em CDs através da Gravadora e Distribuidora Eldorado em 2000. 

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